Nada é mais politicamente palatável ao Partido dos Trabalhadores do
que uma enorme aliança que priorize seus interesses. Se a coisa é boa
para a legenda, até acordão é bem vindo, como nos doze anos governando o
Brasil com Sarney, Maluf e Fernando Collor.
Na eleição vindoura, a grande intenção partidária – dentro da
prioridade de eleger Fátima Bezerra ao Senado – era compor com o PMDB da
família Alves, não importando o enorme bloco político que Henrique e
Garibaldi estão arregimentando.
Coisa parecida já havia acontecido na eleição municipal que elegeu
Micarla de Sousa (PV), quando a candidata Fátima foi derrotada no
primeiro turno e contando com todos os bacuraus em seu palanque. Aquele
foi um acordão do bem, no idioma petista.
O que move agora o PT a compor com o PSD de Robinson Faria é mais um
movimento alternativo para contemplar o único interesse dos petistas na
salvação da candidatura de Fátima Bezerra ao Senado, já que a aliança
com o PMDB vai ficando distante.
O sonho, o desejo, a vontade de Fátima sempre foi ser a senadora de
Garibaldi, repetindo o que já houvera ocorrido como slogan e como
resultado com Fernando Bezerra. Mas o PMDB sempre quis a opção de Wilma
de Faria (PSB) na chapa.
Correr para ensaiar uma dobradinha com Robinson é a jogada que restou
ao PT, rejeitado que foi por Henrique e Garibaldi, que como fiéis
peemedebistas não querem perder terreno partidário na composição do
Senado Federal, como pensam os petistas.
A aliança com Robinson Faria, propagada oficialmente ontem com a foto
da reunião dos dois respectivos diretórios, é de grande conveniência
para o PT, que sequer tem a elegância de disfarçar os dois únicos
interesses da legenda na futura campanha.
Não precisa correr atrás de dirigente ou militante para saber que a
candidatura de Robinson ao governo é só um detalhe para o PT, que
assumidamente se declara focado apenas em construir o palanque de Dilma
no RN e eleger Fátima Bezerra ao Senado.
Menos de 24 horas após divulgar uma nota apoiando a pré-candidatura
do PSD, as verdadeiras intenções foram publicadas no Twitter, pelo
deputado Fernando Mineiro, em resposta a uma pergunta da jornalista
Laurita Arruda, mulher de Henrique Alves.
Não que não sejam legítimas, no âmbito partidário, querer vencer a
eleição senatorial e formar um palanque para Dilma Rousseff; mas é no
mínimo desleal não valorizar a candidatura a governador de um partido
que se abriu para a aliança, como fez o PSD.
As postagens de Mineiro expressam o perigo que correrá Robinson Faria
durante a campanha eleitoral, onde os aliados muito provavelmente terão
outras prioridades acima da sua candidatura ao governo. Não sou eu que o
digo, mas o próprio líder do PT.
É esse tipo de postura, exclusivista e mesquinha, que tem levado ao
desgaste a própria base aliada de Dilma. O jogo de esconde-esconde e as
tentativas de rasteira no PMDB fizeram acordar os parlamentares do maior
partido do Brasil, que já está revidando.
Na dialética malandra do PT, acordão é aquela composição em que todos
se juntam contra seus interesses; mas, se todos se unirem em favor do
PT aí é somente uma grande aliança pelo bem federal, estadual ou
municipal. O cinismo político é sem tamanho.
Para entender a lógica cínica petista: se FHC aparecer numa foto ao
lado de Gilmar Mendes, seus ratos da esgotosfera guincham em baixo
calão. Se Lula posar com Maluf, com Sarney ou com Jader Barbalho, é tudo
natural, como na caverna de Ali Babá.
O PT potiguar buscou avidamente uma composição com o PMDB de
Garibaldi e Henrique, até ser rechaçado. Fracassado no intento, sacou do
bizaco o discurso do acordão e agora quer engabelar o PSD fazendo de
Robinson um detalhe da sua trama.
Por Alex Medeiros – Jornal de Hoje
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